Aplicação de injeção com segurança e com qualidade é uma demanda da população.
Do ponto de vista do cliente, a farmácia está acessível, próxima, oferece maior comodidade que outros estabelecimentos. Não é nada simples ter uma receita de um injetável em mãos. É bem complicado sair da alta hospitalar ou de uma consulta médica ainda ter que descobrir onde resolver essa questão num local seguro e com profissionais capacitados.
Do ponto de vista da farmácia como empresa, oferecer o serviço gera a fidelização do cliente. Se há entrega de benefícios como a “solução deste problema”, o cliente vai preferir frequentar esta farmácia mais completa. E em termos financeiros, o serviço é fonte de receita, pois pode ser cobrado.
Só que muitos proprietários se questionam: Será que vou colocar em risco a vida dos meus clientes? E se um erro acontece? O nome da minha farmácia pode ficar manchado.
Muitos farmacêuticos me perguntam: Como garantir a aplicação de injeção com segurança?
Para a Organização Mundial de Saúde, segurança do paciente é “Redução ao mínimo aceitável do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde”(1).
Erros de medicação ocorrem, mas podem ser evitados.
Infelizmente ou felizmente a gente tem visto diversos casos de erros na mídia. Digo felizmente, pois acredito que notificando essas ocorrências, haverão mais investimentos em segurança e prevenção. Afinal, jogar a sujeira debaixo do tapete é sempre pior! Assumir os erros para aprender a evitá-los é a medida certa.
Veja aqui alguns cuidados importantes para aumentar a segurança de clientes nas injeções de sua farmácia.
Observação: eu uso o termo cliente por haver uma relação de prestação de serviço e comercialização, mas trata-se do paciente mesmo. O importante é tratá-lo com respeito à sua vida, não é mesmo?
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Ambiente seguro
Medicamentos com nomes semelhantes, cansaço, estímulos que distraiam a atenção são algumas das causas de erro, então o ambiente deve ter:
– boa iluminação, isso evita trocas e permite inspeção do conteúdo da ampola (nunca utilizar medicamentos com alteração do aspecto original),
– dimensões compatíveis com os procedimentos, ou seja, conforto,
– área reservada (evita distrações).
Higiene tem tudo a ver com segurança do paciente, não é? Só que vou falar disso em outra postagem, optei por concentrar aqui nos erros de medicação.
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Referências técnicas e atualizadas
Tem dúvida se a dosagem prescrita está correta? Está diante de um medicamento que você nunca preparou?
Leia orientações da bula e confira em bases de dados sobre medicamentos. Um caminho para ter acesso a estas bases é o portal saúde baseada em evidências. Farmacêuticos e outros profissionais de saúde podem se cadastrar, veja em http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/periodicos
Atenção especial para dosagens de pacientes pediátricos, geriátricos e aqueles com anormalidades na função hepática e renal.
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Conferir, conferir e conferir! Tudo. E sempre!
Você já deve ter ouvido falar dos cinco certos da medicação. Conferindo todos eles a aplicação será perfeita!
O profissional deve conferir a prescrição com atenção e só então separar o medicamento e os materiais necessários.
Exigir a prescrição é regra, mesmo para aquele cliente assíduo. Abrir mão pode deixá-lo “mal acostumado”. Evite isto!
Ler a prescrição em voz alta pode ajudar a identificar se o cliente trouxe a prescrição que precisa. O que nos leva ao cuidado de aplicar o 1º dos certos: o medicamento certo.
Fuja dos erros causados por nomes semelhantes! Para isto, leia atentamente a prescrição e os dados do rótulo do medicamento. E faça esta conferência pelo menos 3 vezes: na hora de selecionar na prateleira, antes de começar o preparo e antes de recolocá-lo na prateleira (2). Atenção para diferentes apresentações de um mesmo medicamento. Algumas podem ser aplicadas em diferentes vias (por exemplo, endovenosa e intramuscular) e há outras específicas para cada via (uma apresentação endovenosa e outra intramuscular).
Outra dica que evita erro é exigir um documento da pessoa. Use-o para registrar o serviço feito e garantir que a injeção vai ser feita no cliente certo. Esse é o 2º certo: o paciente certo. Sabemos o quanto é comum a automedicação então fique atento.
Se você já conferiu a dose nas bases de dados, um ponto de atenção é usar a seringa adequada, com capacidade, dosagem e escala compatíveis com a prescrição. Por exemplo, insulina só deve ser preparada em seringas próprias, que têm escala de graduação em unidades de insulina. Para medicamentos prescritos em mL, usar seringas com esta escala. Outra regra importante: quanto menor a dose, menor a seringa, isto confere precisão.
Com todos estes cuidados, você aplicará a dose certa (3° da lista).
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A via certa é o 4º item e deve constar na prescrição.
Se tiver dúvida ou se acredita que houve erro na definição da via pelo prescritor, confira na bula do medicamento. Havendo este ou outro erro, não aplique, contacte o médico pois será necessária uma nova prescrição. A escolha da agulha com comprimento adequado é um requisito fundamental. Existem diretrizes para isto e sempre deve-se inspecionar o local para a escolha correta.
Na tabela abaixo, algumas características de cada via de aplicação de injetáveis.
Sobre o 5º, o horário certo, também é só seguir a prescrição. Num tratamento contínuo, atenção ao intervalo entre uma aplicação e outra. Considere registrar as doses feitas no verso da prescrição incluindo dados como data, hora, nome do aplicador e local da aplicação. É um cuidado extra que permite que outros profissionais tenham acesso (isso é importante quando o cliente faz algumas doses em outro estabelecimento).
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Registro, treinamento e rotinas
Para cada serviço, registre o maior número de informações (dados do paciente, do medicamento, dos materiais usados, sobre a aplicação e prescrição). Isto deve ser feito no livro de registros (exigido pela resolução 499 do CFF) e na declaração de serviços farmacêuticos (segundo a RDC 44 da ANVISA) (3, 4). Além disso, o registro da injeção realizada pode ser feito também no verso da receita.
Não se trata apenas de seguir as legislações, mas sim de permitir rastreabilidade.
E como garantir que os diferentes procedimentos relacionados com aos injetáveis sejam feitos dentro de um padrão ideal? A chave para isto é a comunicação, através de treinamento e de rotinas escritas.
O treinamento da equipe é um importante investimento. Sempre faça o registro dessas capacitações descrevendo data, nome e assinatura dos participantes, assuntos abordados e outras informações pertinentes.
Os procedimentos operacionais padrões, ou POPs, informam como executar corretamente cada etapa envolvida, desde a limpeza da sala até o descarte do material usado.
Um dos POPs pode descrever quais as vias de aplicação são realizadas na farmácia, listar os medicamentos aplicados com suas diretrizes e condutas sobre o preparo e aplicação de cada um deles. Pelo menos dos mais freqüentes.
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Orientação faz a diferença
Informe e oriente o cliente e família sobre possíveis reações ao medicamento e à aplicação, por exemplo, hematoma e dor. Mostre o cuidado da farmácia com a saúde do seu cliente.
Última dica, e talvez a mais importante: deixe claro aos clientes que a farmácia investe na segurança dele! Deixe certificados de cursos à vista na sala de injetáveis. O mesmo pode ser feito para o Manual de Boas Práticas, avisos e outras rotinas escritas. Você encontra alguns modelos de cartazes para sua farmácia na biblioteca da Aplicar.
Estabelecimentos de sucesso investem em organização, higiene e qualificação. Cada vez mais o cliente procura e valoriza isto.
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Referências:
- Runciman W, Hibbert P, Thomson R, Schaaf TVD, Sherman H, Lewalle P. Towards an International Classification for Patient Safety: key concepts and terms. International Journal for Quality in Health Care. 2009;21(1):18-26.
- Clayton. Os seis certos da administração de medicamentos. In: Elsevier, editor. Farmacologia na Prática da Enfermagem 15ed2012.
- RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 44, DE 17 DE AGOSTO DE 2009 In: Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, editor. Brasilia: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2009.
- Conselho Federal de Farmácia. RESOLUÇÃO nº 499 de 17 de dezembro de 2008. BRASILIA: Conselho Federal de Farmácia; 2008.