Quase 100% das vacinas humanas utilizadas no Brasil são injetáveis. Fora a vacina contra o Rotavírus e a VOP (vacina oral contra poliomielite), as outras, usadas tanto nos serviços públicos e quanto nos privados, são administradas nas vias intramuscular (IM), subcutânea (SC) e intradérmica (ID).
- Há vacinas que devem ser aplicadas exclusivamente no músculo (na via IM), como acontece com as vacinas contra Hepatite B, Difteria, Tétano, dentre outras;
- Há aquelas que devem ser aplicadas na via SC, por exemplo, a Tríplice Viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola;
- Já a BCG, que protege contra formas graves da Tuberculose, tem que ser aplicada na via intradérmica.
Assista neste post o vídeo com a aula sobre este tema, nele abordo vários aspectos importantes. Se gostar, comente e por favor, compartilhe. Outros colegas podem ser beneficiados com esta aula!
Acho interessante quando escuto de alguém que “toda vacina tem que ser feita no deltoide”. Confesso que fico preocupada!
Será que esta pessoa está atenta para o fato de cada vacina ter uma via diferente? Quando ela cita “deltoide” ela está se referindo ao músculo ou a região onde este músculo se encontra?
Seria uma generalização? Espero que não. Um erro na via de aplicação pode comprometer, por exemplo, no aumento da incidência de eventos adversos locais. Generalizar este assunto, ou seja, colocar todas as vacinas num “pacote único” é um perigo. O profissional que aplica vacinas deve garantir que as injeções sejam feitas no tecido indicado.
Se você já atua em sala de vacinação ou está iniciando suas atividades na oferta deste serviço, fique atento às orientações que descrevo abaixo. E lembre-se, na videoaula deste post tem dicas valiosas!
Dicas importantes para sua aplicação
1) Use referências confiáveis
Aplique na via indicada nas referências técnicas da vacina, ou seja, na bula. Referências como publicações feitas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) e Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) também são fontes confiáveis. Se a referência usada indica o uso de mais uma via (muitas vacinas podem ser aplicadas na IM ou na SC), verifique se o fabricante dá preferência a uma delas. Se há alguma precaução específica, considere também isso. Um exemplo é o caso de pacientes em uso de terapia anticoagulante. Quando a vacina que ele precisa pode ser feita na via IM ou na via SC, deve-se dar preferência para aplicá-la na via SC.
2) Use agulha correta
O comprimento da agulha deve ser compatível com a profundidade do tecido. Numa injeção intramuscular, deve-se usar agulhas mais longas que as agulhas indicadas nas vias SC e ID. Em geral, recomenda-se agulhas com comprimento de 25 mm para as injeções intramusculares. Para uma vacina na via SC e ID, as referências técnicas indicam o uso de agulhas que têm 13 mm de comprimento. Sobre este aspecto, assista no vídeo que até mesmo com agulhas de 13 mm há o risco de erro na via de aplicação.
Assista o vídeo completo sobre escolha de agulhas.
3) Aplique a vacina no local (região) correto
Quando se diz “via de aplicação” de injetáveis, estamos nos referindo ao tecido que vai receber o medicamento. Seria o músculo, o tecido subcutâneo ou a derme, por exemplo. Quando nos referimos “local” ou “região”, então trata-se do local do corpo, como o braço ou
a coxa, local este que vai receber a injeção. Em geral, a aplicação de vacinas intramusculares deve ser feita no músculo deltoide, no músculo vasto lateral e em algumas situações, pode-se usar o músculo glúteo, atingindo as regiões chamadas dorsogluteo e o ventrogluteo.
Veja mais sobre quando usar cada região no vídeo acima.
4) Use a técnica recomendada para cada tipo de vacina
A escolha do ângulo para fazer a injeção e o uso ou não de uma prega (pinça feita com os dedos) é essencial para garantir que a injeção de fato atinja a via recomendada. Em geral, ao fazer a aplicação intramuscular, não é necessário fazer prega. O uso da prega pode causar erro de aplicação (aplicação no SC ao invés do músculo). Em contrapartida, ao fazer uma vacina subcutânea, é recomendado realizar uma prega cutânea, para isso, use o dedo indicador e o polegar e mantenha a região firme. Utilizar a técnica em Z nas vacinas intramusculares também é importante pois evita o refluxo da vacina. Quando acontece refluxo há risco de perda de dose, e também da vacina causar uma reação local mais intensa (vermelhidão, enduração, por exemplo) por atingir o tecido SC. Então fique atento, conheça e utilize esta técnica.
5) Delimite a região adequadamente
Para evitar que a agulha e a vacina atinja regiões que contém nervos ou estruturas das articulações, deve-se seguir à risca as orientações para aplicação no local correto. Por exemplo, ao fazer injeção IM no deltoide, deve-se garantir que a injeção seja feita no centro deste músculo. Para fazer a injeção intradérmica da vacina BCG em contrapartida, deve-se aplicar na altura da inserção inferior do músculo deltoide. Neste caso (BCG) o tecido atingido é a derme, mas a região corresponde ao local onde está a inserção do deltoide. Para vacinas subcutâneas, a injeção deve ser feita em áreas do corpo onde o tecido subcutâneo tem maior espessura, em geral, a região posterior do braço e a região ântero-lateral da coxa são mais utilizadas.
Saiba mais sobre: Delimitação de Injeção IM no Deltoide.
Estes e muitos outros cuidados servem para evitar os ERROS DE IMUNIZAÇÃO, que são um tipo de “ERRO DE MEDICAÇÃO”. Fazer uma anamnese criteriosa, manter o paciente em observação após a vacinação, ter procedimentos padronizados e se atualizar regularmente também são medidas fundamentais.
Segundo o Manual De Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014 (leitura que super indico a você), “Erro de medicação é qualquer evento evitável que pode causar ou levar a um uso inapropriado de medicamentos, entre estes todos os imunobiológicos, ou causar dano a um paciente, enquanto o medicamento está sob o controle de profissionais de saúde, pacientes ou consumidores. Podem estar relacionados à prática profissional, os produtos para a saúde, procedimentos e sistemas, incluindo prescrição, orientação verbal, rotulagem, embalagem e nomenclatura de produtos industrializados e manipulados, dispensação, distribuição, administração, educação, monitorização e uso”.
Espero que este conteúdo te ajude, dê mais segurança a você e aos seus clientes. Se acreditar que outros colegas também serão beneficiados, compartilhe! E fique a vontade para deixar comentários aqui (logo abaixo há um espaço para isso;).