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Rodízio de locais na injeção. Como fazer e orientar!

Rodízio de locais na injeção. Como fazer e orientar!

É real a necessidade de injeções diárias em tratamentos com insulinas, hormônios, antibióticos, anti-inflamatórios e anticoagulantes. E a literatura recomenda o rodízio de locais de aplicação.

Mas como garantir que este cuidado seja colocado em prática?

Neste artigo eu vou usar duas diferentes situações fictícias para ilustrar como o farmacêutico pode colaborar neste cuidado e assim oferecer um serviço completo e de qualidade tanto nas injeções da sala quanto fazendo Educação em Diabetes.

Situação número 1: Atendimento a uma prescrição de 10 dias de um anticoagulante injetável.

O cliente vai até a farmácia duas vezes ao dia para tomar esta injeção.

Como saber onde foi feita a última aplicação? E qual o local correto para a próxima?

Informações no registro de cada injeção são a melhor forma de garantir que o rodízio está sendo feito.

Tanto o livro de registro quanto a declaração de serviços farmacêuticos podem conter uma coluna ou uma linha para se descrever a região (que no caso desta injeção subcutânea pode ser abdômen, braço, coxa ou nádega) e o lado (direito ou esquerdo).

Como já abordado neste outro artigo, o verso da receita também pode ser usado para registrar a injeção, inclusive acrescentando estas informações.

Situação 2 – O cliente faz uso de insulina e relata apresentar “algumas marcas no local da injeção”.

Nesta frase, duas palavras chamam a atenção.

Se ele disse “marcas”, é possível que tenha lipo-hipertrofia. E a palavra “local”, no singular, gera outro alerta: que o cliente só aplica num lugar, (provavelmente num só ponto). Neste caso, o papel do farmacêutico é o de educar.

Alguns pontos sobre a autoaplicação de insulina.

  • O padrão ouro da insulinoterapia é feito de múltiplas doses diárias (1).
  • A lipo-hipertrofia é um espessamento do tecido subcutâneo, apresentado como inchaço ou nódulo abaixo da pele. É causada pelo excesso de injeções de insulina num curto espaço de tempo ou pelo reuso de agulhas, e menos frequentemente, por reações individuais à insulina usada. Lipoatrofia apresenta uma depressão no tecido e é menos comum (2, 3). Veja nas imagens exemplos destas duas deformidades.
  • Incidências de presença de alterações na pele como a lipo-hipertrofia chegam a mais de 50% (4, 5).
  • Alguns pacientes admitem usar locais que tem lipo-hipertrofia para aplicar insulina, onde, inclusive, relatam ausência de sensibilidade (4).
Lipo-hipertrofia (a) e lipoatrofia (b). Fonte: Mokta, J. K., Mokta, K. K., Panda P. Insulin lipodystrophy and lipohypertrophy. Indian J Endocrinol Metab. 2013. 17 (4).
Lipo-hipertrofia (a) e lipoatrofia (b). Fonte: Mokta, J. K., Mokta, K. K., Panda P. Insulin lipodystrophy and lipohypertrophy. Indian J Endocrinol Metab. 2013. 17 (4).

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Para fazer a orientação sobre a importância do rodízio, comece investigando.

Faça perguntas e peça para o cliente explicar como tem sido a rotina de autoaplicação, assim você compreende o que é possível melhorar.

Então fale sobre razões, motivos, porquês!

Lembre-se que a pergunta “O que é que eu ganho com isso?” tende a rondar nossas mentes! Acredita-se que um importante fator para aumentar a adesão a algum cuidado em saúde é o entendimento sobre o benefício que este cuidado vai gerar (6).

Falando em benefícios, o rodízio feito de forma correta, apresenta dois:

Benefício 1: Estético

A presença de lipo-hipertrofia é muitas vezes visível e estará em locais expostos como braço e coxa.

glicemia

Benefício 2: Melhor controle glicêmico

Aplicar insulina em área com lipo-hipertrofia compromete o controle glicêmico, pois a absorção será irregular, levando a variabilidade glicêmica e episódios de hipoglicemia inesperada (5).

Conseguida a motivação, explique como fazer o rodízio.

Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2015-2016, deve-se:

– revezar as diferentes regiões, os dois lados (direito e esquerdo) e os diversos pontos dentro de cada região,

– dividir as regiões em diferentes pontos com uma distância mínima de 1 centímetro (1 cm) entre eles,

– fixar uma região por horário do dia (quando há múltiplas injeções diárias) e revezar os diferentes pontos e lados desta região nos diferentes dias,

– aguardar um intervalo de 14 dias para aplicar num ponto recém usado,

– considerar o número de injeções diárias,

– considerar os horários das injeções e evitar aplicação em áreas do corpo que serão usadas em atividades diárias e exercícios físicos logo após a injeção,

– inspecionar os locais usados regularmente e instruir ao paciente que faça o mesmo,

– não aplicar onde houver sinais de lipo-hipertrofia.

São muitas regras, muitos detalhes, certo?

Por isso, acesse este vídeo que detalha tudo isso de uma forma melhor, através de exemplos de prescrições, de situações bem reais.

Nele eu também apresento materiais educativos e instrumentos que você poderá usar para oferecer um atendimento ainda mais completo!!!

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Referências:

  1. Diabetes Control and Complications Trial Research Group. The effect of intensive treatment of diabetes on the development and progression of long-term complications in insulin-dependent diabetes mellitus. N Engl J Med. 1993;329(14):977–86.
  2. Tandon N, Kalra S, Balhara YPS, Baruah MP, Chadha M, Chandalia HB, et al. Forum for Injection Technique (FIT), India: The Indian recommendations 2.0, for best practice in Insulin Injection Technique, 2015. Indian J Endocrinol Metab. 2015;19(3):317-31.
  3. Klein H, Jackson S, Street K, Whitacre J, Klein G. Diabetes self-management education: miles to go. Nurs Res Pract. 2013;2013:1-15.
  4. Coninck C, Frid A, Gaspar R, Hicks D, Hirsch L, Gillian KREUGEL, et al. Results and analysis of the 2008–2009 Insulin Injection Technique Questionnaire survey. Journal of Diabetes. 2010;2:168-79.
  5. Blanco M, Hernandez MT, Strauss KW, Amaya M. Prevalence and risk factors of lipohypertrophy in insulin-injecting patients with diabetes. Diabetes Metab. 2013;39(5).
  6. Patton SR, Eder S, Schwab J, Sisson CM. Survey of Insulin Site Rotation in Youth with Type 1 Diabetes Mellitus. J Pediatr Health Care. 2010;24(6).